Para conhecimento de todos:
*COMUNICADO*
Desde ontem, dia 5 de janeiro, a imprensa brasileira e argentina vêm
noticiando o acidente sofrido com o presidente da Federação de
Montanhismo do Rio de Janeiro (Femerj), nosso querido amigo Bernardo
Collares, enquanto escalava o Fitz Roy, uma das montanhas mais
desafiadoras do planeta, localizado no Sul da Patagônia, uma região com
um dos climas mais severos e inconstantes que pode haver.
Um assunto como este, evidentemente, desperta um grande interesse no
público em geral, motivo pelo qual a grande mídia vem dando tanto
destaque ao ocorrido. Entretanto, por o montanhismo e a escalada em
rocha envolverem muitas questões técnicas, é natural que alguns
equívocos ocorram, por parte do grande público, na compreensão do que
realmente aconteceu. Para tentar colaborar para um melhor entendimento,
é importante ressaltar algumas questões.
Bernardo Collares e Kika Bradford formavam uma das duplas mais fortes do
montanhismo em atividade no Brasil, tanto pela larga experiência
individual, quanto pelo entrosamento conseguido em dezenas de escaladas
juntos no Brasil e no exterior. Entre a comunidade de montanha não há a
menor dúvida que as decisões tomadas por qualquer um dos dois seriam
sempre as mais apropriadas em qualquer situação de acidente.
Ambos, como guias federados de montanha, com todos os cursos possíveis
no assunto e mais de década de experiência, seriam as pessoas que
qualquer montanhista ficaria aliviado em dividir uma cordada em situação
de risco. Ambos já demonstraram em muitas oportunidades serem pessoas
competentes, capacitadas, solidárias, generosas e queridas. São, ainda,
pessoas treinadas para agirem com o máximo de racionalidade em situações
de estresse e perigo, pois isso pode, literalmente, fazer a diferença
entre a vida e a morte.
Quando o acidente com os nossos amigos chegou ao conhecimento da
comunidade de montanha, causou uma grande comoção, tanto por conta do
que ocorreu com Bernardo, como pelo que ocorreu com Kika, que teve que
tomar uma das decisões mais difíceis que um ser humano poderia
enfrentar. A seu lado, seu grande amigo ferido, sangrando e sem
conseguir se mexer. Abaixo, 50 rapéis até a base da montanha e dois dias
de caminhada até o encontro com os companheiros que ficaram em El
Chalten. Se em condições normais esse retorno já se mostraria muito
exigente e viável somente a poucos suficientemente preparados como ela,
fazê-lo carregando alguém maior e mais pesado que ela seria algo
completamente fora de cogitação no paredão vertical de quase dois mil
metros de pedras soltas e ventos que levantam as pessoas do chão.
Todos que conhecem minimamente os fundamentos do montanhismo e a região
não possuem a menor dúvida a esse respeito. Felizmente a Kika, forte e
determinada como ela só, conseguiu retornar para informar do ocorrido,
depois de viver momentos dramáticos no longo trajeto. Ela agora se
recupera das feridas físicas e, principalmente, emocionais, contando com
o apoio e solidariedade de todos.
Diretoria da FEMERJ
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