Finalmente obtivemos notícias de Maximo e o desfecho de sua expedição ao Gasherbrum I e II. Infelizmente ele não pode alcançar cume em nenhuma destas montanhas por diversos motivos. Leia na íntegra as noticias enviadas por ele neste caótico Paquistão das enchentes:
O Paquistão esta um caos.
Estou usando uma internet discada de 56k em Skardu. Foi um milagre chegar aqui. Passamos 3 dias cavando e movendo pedras no que era uma vez a estrada entre Askoli e aqui. Tentando descer por Hushe mas a estrada já era. O rio subiu tanto que levou arvores das encostas e as arvores formaram diques que estouraram e mataram pelo menos 50 mais abaixo de Hushe.
Por Askoli a estrada foi varrida em 8 pontos. Ninguém sabe de nada sobre o que está acontecendo mais abaixo. Mesmo o serviço da Thuraya no Paquistão esta com defeito devido ao grande volume de chamadas e pessoas que estão tentando usar telefones satelitáis ao mesmo tempo.
Foi uma odisséia a parte avisar a nossa agência pra mandar um carro para pegar a gente.
Voltamos à idade da pedra e tivemos que mandar um cara a cavalo a avisar a ATP!!! As coisas mais básicas aqui não funcionam. ADSLs não existem em todo o Baltistão e telefones funcionam por milagre. Não há comida ou combustível que não chegue por avião.
A PIA esta cancelando os vôos ante qualquer ameaça de chuva (que esta na previsão para os próximos 3 dias). Não há helicópteros de resgates nas montanhas que não seja por emergências médicas graves. Amanhã vai descer um C130 da ONU com ajuda médica e mantimentos e combustível. Esperamos tentar subir neste avião e chegar a Islamabad.
A karakorum highway for levada embora em varias partes e é virtualmente impossível ir por terra ao sul. Dizem que mais de 20 pontes foram levadas.
Há um grande de doenças nas zonas inundadas e nenhum hospital (dos que ainda existem) dão conta dos casos de cólera, tifóide, disenteria, etc...
Estivemos 2 meses na montanhas e as notícias que chegavam pra gente foram muito limitadas. Sabíamos razoavelmente que havia acontecido uma grande tragédia nas terras baixas, mas não que 14 milhões foram afetados.
Todos desceram bem e ninguém foi ferido gravemente. Eu tive problemas de saúde na montanha. A mais de 6400m meu corpo rejeitou água ou comida e não pude escalar o G1. No dia 5 de agosto, todos os que estavam no base juntaram forças para um ultimo ataque ao cume. Subimos a cachoeira de gelo no dia 3 ate o campo 2 num puxão só. De lá subimos ao c3 no dia 4 e na madrugada todos tentaram o cume. Eu tive que ficar para trás a 7100m. Mais tarde um médico diagnosticou falha no pâncreas devido ao excessivo tempo que estou na altitude.
No ataque ao cume, os irmãos sherpas Dawa e Mingma Sherpa (que escalou 13 dos 14) e Pasang Lama Sherpa (trabalhando para 2 coreanos, e Mr. Kim com seu parceiro coreano (que escalou 12 dos 14), formaram um bloco muito forte que pretendia fixar 400 metros da rota. Além deles estávamos os restantes da Altitude Junkies: Phil Crampton e seu ultimo cliente Arian Lamal, e o fortíssimo Fredrik Strang da Suécia (com 6 dos 14) e eu como parceiros. Os dois tinham somente serviços de acampamento base. Trabalhamos duro para ajudar os sherpas e coreanos a carregar 200 m de cordas, piton, parafusos e barras para fixar a rota. Levamos toda a carga a 7100 e pretendíamos trabalhar juntos só que eu não pude ir.
Durante o ataque que durou 16 horas (21 do c3-cume-c3), os sherpas e Fredrik fixaram a totalidade da rota ate o cume. Seguindo eles veio a brasileira Cleo. Ela contratou 2 dos mais fortes porteadores de altitude do Paquistão: Ali, que escalou o K2 e Hussain que escalou a Rupal do Nanga. Se não me engano ela foi a única a usar O2 na escalada e chegou ao cume logo atrás do bloco que fixou a rota. Ela estava muito feliz na descida, porem bem cansada.
No dia 6 veio uma tempestade e tivemos que descer as pressas. Tive muita dificuldade em descer, pois fiquei 4 dias sem beber ou comer nada. A 6300m, a caminho do C1, caí numa greta de 12 metros de profundidade. Apesar de estar encordado ao Fredrik, estávamos numa virada e foi uma queda livre ate o fundo da greta. Fiquei entalado de costas no fundo da greta. A ponte de gelo que quebrou caiu sobre minha cabeça e quebrou meu capacete no meio. Apesar da queda não quebrei nenhum osso, porém tive escoriações em todo o corpo. Tive dificuldades em respirar com toda a neve que me cobriu, mas consegui deixar a mochila e jumarear para sair da greta. Tive congelamentos leves num dedo tentando sair.
Chegamos ao base na manha do do dia 7. Começamos a caminhada de descida no dia 9 as 5am.
Bom galera, essas são as noticias. Prometo colocar um relato sobre tudo...
Vou nessa, um abraço
Maximo
Quer saber mais acesse: http://www.gentedemontanha.com
Por Pedro Hauck
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