Uma delas é a abertura de uma nova linha na Pedra Riscada (MG) chamada Place of Happiness, 850m, 9a, conquistada pelos escaladores Edemilson Padilha (BRA), Horacio Gratton (ARG), Stefan Glowacz (ALE), Holger Heuber (ALE) e Klaus Fengler (ALE).
Tem belas fotos e o relato das escaladas em alta montanha no Peru pelo escalador Aleomar Galassi.
Traz também uma entrevista com o escalador Thiago Balen. Parte dessa entrevista que foi concedida ao escalador Eliseu Frechou, você pode conferir nas linhas abaixo:
Como foi que você começou a escalar?
Sempre senti muita atração pelos esportes de montanha, recortava artigos de revista de alpinismo, montanhismo, escalada em rocha, etc. Na época o esporte no RS era pouquíssimo divulgado e eu não conhecia ninguém que praticasse. Eu tinha o conhecimento que escoteiros realizavam alguma prática de escalada e rapel e então pedi a meus pais para ingressar no movimento. Quem sabe assim conheceria alguém lá dentro. Mas não foi fácil pois tinha 13 anos, entrei como escoteiro e quem realizava estas atividades eram os seniores, jovens de 15 anos para cima. Após perturbar muito o chefe da tropa sênior, consegui que ele me levasse a escalar (numa oportunidade à parte do movimento escoteiro). Fomos escalar no Cinqüentenário, que é uma parede de basalto no meio da cidade de Caxias. Literalmente no meio da cidade, muito perto do centro inclusive. Depois dessa escalada fiquei mais fissurado ainda e comecei a freqüentar um muro externo que havia nas dependências da UCS (Universidade de Caxias do Sul) e fora construído por membros da ACM. Como tinha pouco equipamento - na verdade só uma cadeirinha - ficava ai no muro esperando alguém chegar e me oferecer um “top rope”. Neste muro conheci o Bruno, um garoto que tinha a mesma idade e mais ou menos a mesma situação com o esporte. Foi perfeito, pois juntamos todo nosso equipo, que no total somavam uma costura, uma fita, um freio oito, dois mosquetões de rosca e uma corda branca de ferragem. Ficamos nessa alguns meses, montando top rope no muro da UCS e no Parque Cinqüentenário. Não demorou muito compramos uma corda usada em sociedade e mais costuras e então começamos a guiar, ainda de kichute é claro, hehehe.
Quais seus points de escalada preferidos no RS, e por quê?
Gosto de muitos, pois gosto de escalar em locais diferentes, mas posso citar: Gruta, Salto Ventoso, Caçapava do Sul. A gruta hoje em dia tem muitas vias, a maioria bem negativas, além de apresentar vias muito difíceis e ainda ter projetos não encadenados. O Salto sofreu recentemente um upgrade, graças ao trabalho do Vini (Vinicius Todero) e hoje em dia existem muitas vias novas, o que tem me motivado muito a freqüentar novamente este sitio, além é claro das vias antigas já clássicas na escalada esportiva gaúcha. Já Caçapava tem um grande diferencial que é o ambiente. A paisagem é muito bonita, a ausência de construções e cidades por todo o campo de visão e em todos os setores. Isso é fantástico e fascinante. Além do maravilhoso visual, hoje em dia existem vias duras que podem entreter qualquer escalador por um bom tempo.
O montanhismo brasileiro é bem diferente em cada lugar deste enorme país. No que você acha que a escalada gaúcha mais difere?
Vejo a cultura de escalada esportiva em rocha muito forte no RS. Possivelmente alavancada pela facilidade de acesso a points esportivos e pela qualidade e desenvolvimento dos mesmos. Os points tradicionais do RS (salvo raras exceções) não são tão atraentes e de fácil acesso. Na verdade esta é uma realidade bem notória na grande Porto Alegre e na serra. Caçapava, que durante muito tempo foi um local de características tradicionais, hoje em dia apresenta muitas opções esportivas de muitos graus. Vejo, proporcionalmente e em comparação com outros estados, mais escaladores com o foco esportivo de escolher uma via como objetivo e batalhar por ela, treinar e se preparar para encadena-la, atitude esta característica de escaladores de ponta. Percebo que escaladores com a cabeça mais relaxada que escalam uma via para curtir, não encadenar e não se preocupar muito com isso, puxar a corda e em seguida escalar outra são minoria por aqui. Muitos escaladores encaram este desafio da escalada esportiva e passam a semana com a sua via em mente (independente do grau), aguardando o próximo fim de semana para mais uma batalha.
Você nasceu em Caxias do Sul. Como você vê a importância dos points de Caxias no cenário da escalada gaúcha. No seu entender, o que a Gruta da Terceira Légua e o Salto Ventoso contribuíram para a evolução da escalada no sul?
Caxias entrou forte no cenário gaúcho de escalada esportiva em meados dos anos 90. Esportivamente falando o RS começou com o morro Sapucaia, após este local se tornar muito freqüentado, escaladores de Porto Alegre, que estavam puxando a evolução da escalada esportiva na época (Duca, Careca, ...) passaram a desenvolver o Itacolomi, onde surgiu a via Triton, primeiro 9a do estado. Novamente pelo grande movimento de pessoas e escaladores neste local surgiu um novo point: o Pudim, onde surgiu a via Filhote de Mozo, o primeiro 9c do estado. Por volta de 95 os escaladores de Porto Alegre, começaram a explorar as paredes negativas do Salto Ventoso e paralelamente os escaladores caxienses a desenvolver a Gruta. Devido a grande quantidade de linhas negativas, na Gruta começaram a despontar uma quantidade impressionante de vias de 9º e mais tarde de vias de 10º, que foram definitivas na evolução e na motivação dos escaladores. Era muito engraçado, pois cada vez que abríamos uma via nova na gruta, pensávamos: “agora acabou, não tem mais onde abrir uma nova” e de repente alguém achava uma nova linha e lá surgia um novo projeto.
Dê uma dica para quem vai pela primeira vez ao RS aproveitar melhor a sua viagem.
Hoje em dia o RS oferece boas e variadas opções de escalada. Adquirir um conhecimento prévio das características da escalada de cada local é bem interessante para programar seu roteiro. Nós brasileiros não temos muito problema em escalar com temperaturas um pouco elevadas, portanto recomendo optar por épocas mais quentes do ano onde a umidade é menor e as paredes secam com mais rapidez. Fim do verão e início do outono é perfeito, pois as paredes ainda estão bem secas e o calor intenso já passou. Essa dica se enquadra para os points da serra. Na campanha não recomendo escalar no verão pois as paredes são mais expostas ao sol, a temperatura fica realmente alta e sem falar na grande quantidade de marimbondos criados a toddy. Seja qual for seu destino, vale à pena dar uma treinadinha em negativos antes de viajar, pois aumentará muito as opções de vias a serem escaladas. Em locais como Gruta e Salto predominam os “desplomes”.
O fato de no RS haver muitas paredes em basalto e conglomerado que possibilitam escaladas em negativos contribuiu para sua escalada?
Sem dúvida. Quando comecei a escalar esportivamente, além de poucas vias abertas, muitas já eram negativas, então não tive muita escolha Desde cedo tive que treinar e malhar vias e este espírito me acostumou com a rotina de treino, fator muito importante na minha evolução. Escalava com foco. Durante a semana treinava para a via que estava tentando e no fim de semana mais tentativas na via. Devido a poucas opções, algumas vias levei um bom tempo para encadenar, mas isso não me importava: quanto mais “apanhava” mais treinava. Para se ter uma idéia, comecei a escalar em muro durante a semana (graças ao incentivo e ajuda do Jimão) em março de 98 e na época mal encadenava um 7a No dia 01/01/99 encadenei meu primeiro 9a.
Quais as viagens mais importantes da sua vida de escalador?
A primeira viagem marcante na minha vida foi a primeira vez que fui para o Cipó. Nesta oportunidade além de vislumbrar um local novo, muito evoluído e com vias de alto nível, me lancei na imersão da escalada durante estes dias. Outro fator importante desta viagem foi estar na companhia de Kava, Roberta e Juliana, escaladores muito motivados, que acrescentaram muito na minha escalada naquele momento e principalmente me encorajaram a tentar vias que eu não acreditava serem possíveis na época. Tudo era muito impressionante, aprendi muita coisa, vivenciei experiências agradáveis, conheci escaladores que vieram a se tornar grandes amigos e fiquei muito surpreso com meu rendimento. Meu objetivo na viagem era encadenar meu primeiro 9b, acabei encadenando a Heróis da Resistência (9c) antes mesmo de encadenar os 9bs da viagem.A primeira viagem a Europa, que escalei na Espanha e França, foi outra experiência incrível. Conhecer alguns dos sítios mais famosos do mundo, poder escalar uma quantidade impressionante de vias alucinantes e observar escaladores de ponta mundial tentando vias foi algo extremamente satisfatório também.
Quais as vias mais difíceis que você já escalou no Brasil e exterior?
Bom, independente de algumas da lista terem a graduação mais baixa, para mim foram bastante custosas e trabalhosas, acredito terem sido: Coquetel de Energia 10c, Mr. Bill 10c, Massa Crítica 10c, Sombra e Escuridão 10c, Directa Challenger 10c, Projeto de Vida 10c, Redes Neurais 10b, Rosa Tatuada 10b, La ami de tout monde 10b
Você fez algum treino específico para cada uma dessas vias?
Para algumas delas sim. Principalmente as primeiras. Para o Coquetel, o Mr. Bill e o Massa fiz um treino bem específico no muro. Como em duas delas estava distante das vias e realizei um treino em muro durante alguns meses e depois viajei para o Rio para tentar as vias. Foi muito interessante e bastante diferente de morar no local onde você esta tentando um projeto. A pressão é maior, mas o foco também. Treinei bastante em cima de vias e passadas no muro onde reproduzia parte das vias. Para estas vias treinei em companhia do Guili, o que foi muito motivante, pois treinávamos em cima de pega das agarras semelhantes a que iríamos encontrar, número de movimentos, inclinação da parede entre outras variáveis.
O que lhe atrai na escalada?
Muita coisa me atrai na escalada. Viajar para lugares e países diferentes, conhecer pessoas, passar horas ou dias se divertindo na companhia de amigos, da namorada, entrar nas roubadas, tudo isso cria o contexto geral da escalada. Falando especificamente de escalar vias, o que me fascina é o desafio e a dedicação para encadenar algo realmente difícil para mim, o fato de se preparar, de se transformar tanto fisica como psicologicamente a ponto de transpor aquele obstáculo que antes parecia impossível. Todo o treino me atrai, as estratégias, enfim todo o processo e preparação que antecede a cadena de uma via no limite. A escalada à vista também é impressionante, uma mistura de rápido raciocínio com instinto e memória corporal de movimentos. Escalada em livre na parede é igualmente alucinante. Fazer força e manter a concentração nos movimentos com aquela sensação de vazio em volta, com os pés longe do chão e longe da proteção, algumas vezes ainda com proteção móvel, é algo muito massa, muito mesmo.
Mais informações em: http://www.mountainvoices.com.br/
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